domingo, 29 de novembro de 2009



 A Espectacularidade nos meus 56 anos!

Há cerca de 6 anos tornei-me perita em “malhanços”.
A primeira queda espectacular (falo apenas nas espectaculares) deu-se ao fazer uma caminhada com o meu filho e em que todos evitaram uma saliência no caminho, eu sempre perdida nos meus pensamentos e também na minha “tagarelice” vou de encontro à saliência e estiquei-me ao comprido, valeu-me a “falta” que o meu filho sentiu da “tagarelice” e ao olhar para trás vê-me estendida.
- Deixa de ser preguiçosa e levanta-te do chão, diz ele já habituado às minhas quedas desastrosas!
A segunda foi numa estação de lavagem de carros. Estava muito animada a aspirar o meu (esqueci-me de dizer que tudo o que faço é a 200 à hora, ainda não consegui encontrar o equilíbrio na kilometragem daí toda esta espectacularidade), tinha a perna direita dentro da parte traseira do carro e quando termino de aspirar tiro o pé mas este vem com o cinto de segurança atrás o que faz com que fique sentada no chão com todos os que lá se encontravam a olhar-me com ar  pensativo "hum, bem regado o almoço"!
A terceira foi ontem, ia como sempre a alta velocidade quando tropeço em coisa nenhuma, consegui despertar a atenção de três amáveis transeuntes que quando me vão ajudar já me encontram de pé perguntam-me como caí, pois bem se nem eu mesma sei, parecia que tinha sido cuspida, fiquei novamente agarrada ao chão com a carteira a alguns metros de mim e os óculos de sol também!
Não acham que apesar dos meus 56 anos ainda consigo ser espectacular e surpreender ? Seja lá no que for...

Se algum dia virem uma “jovem” senhora abraçada ao chão, saibam que sou eu!



Pintura de Kandinsky


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

TEXTOS SOLTOS

Ninguém avança pela vida em linha recta.
Por vezes, saímos dos trilhos.
Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo e desaparecemos como pó.
As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar.
No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver.
Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo.
Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutávelmente para trás, atolados no caminho.
Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável.
É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar.
(Henry Miller)




Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar!
Quando voltar, é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça, é tudo tão verdade!
(A Invenção do Dia Claro, de Almada Negreiros, INCM)


Desiderata

Caminha placidamente entre o ruído e a pressa. Lembra-te de que a paz pode residir no silêncio.
Sem renunciares a ti mesmo, esforça-te por seres amigo de todos.
Diz a tua verdade quietamente, claramente.
Escuta os outros, ainda que sejam torpes e ignorantes; cada um deles tem também uma vida que contar.
Evita os ruidosos e os agressivos, porque eles denigrem o espírito.
Se te comparares com os outros, podes converter-te num homem vão e amargurado: sempre haverá perto de ti alguém melhor ou pior do que tu.
Alegra-te tanto com as tuas realizações como com os teus projectos.
Ama o teu trabalho, mesmo que ele seja humilde; pois é o tesouro da tua vida.
Sê prudente nos teus negócios, porque no mundo abundam pessoas sem escrúpulos.
Mas que esta convicção não te impeça de reconhecer a virtude; há muitas pessoas que lutam por ideais formosos e, em toda a parte, a vida está cheia de heroísmo.
Sê tu mesmo. Sobretudo, não pretendas dissimular as tuas inclinações. Não sejas cínico no amor, porque quando aparecem a aridez e o desencanto no rosto, isso converte-se em algo tão perene como a erva.
Aceita com serenidade o cortejo dos anos, e renuncia sem reservas aos dons da juventude.
Fortalece o teu espírito, para que não te destruam desgraças inesperadas.
Mas não inventes falsos infortúnios.
Muitas vezes o medo é resultado da fadiga e da solidão.
Sem esqueceres uma justa disciplina, sê benigno para ti mesmo. Não és mais do que uma criatura no universo, mas não és menos que as árvores ou as estrelas: tens direito a estar aqui.
Vive em paz com Deus, seja como for que O imagines; entre os teus trabalhos e aspirações, mantém-te em paz com a tua alma, apesar da ruidosa confusão da vida.
Apesar das suas falsidades, das suas lutas penosas e dos sonhos arruinados, a Terra continua a ser bela.
Sê cuidadoso.
Luta por seres feliz.
(Inscrição datada do ano de 1692. Foi encontrada numa sepultura, na velha igreja de S. Paulo de Baltimore – hoje já não se pensa que seja esta a origem, mas assim é mais bonito… O verdadeiro autor: Max Ehrmann)



Se não puderes ser um pinheiro
Se não puderes ser um pinheiro no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale, mas sê
O melhor arbusto à margem do regato
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso…
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
(Pablo Neruda)



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Quando Um Homem Quiser - Ary Dos Santos




Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão


E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão


Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher


Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão


E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão


Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher


Be careful of my Heart, Tracy Chapman

Cecília Meireles



MORRO DO QUE HÁ NO MUNDO

Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.

Morro do que vivi.


Morro comigo, apenas:

com lembranças amadas,

porém desesperadas.


Morro cheia de assombro

por não sentir em mim

nem princípio nem fim.


Morro: e a circunferência

fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

RECORDANDO JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS



 
Os putos


Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.


Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.


Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.


As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo


Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.


José Carlos Ary dos Santos


domingo, 15 de novembro de 2009

Machado de Assis


SONETO DE NATAL
Um homem, – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, -
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Em Louvor das Crianças




Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.

A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.

O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.


Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'






quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Verdes são os Campos




Verdes são os campos,
De cor de limão:

Assim são os olhos

Do meu coração.
Campo, que te estendes

Com verdura bela;

Ovelhas, que nela

Vosso pasto tendes,

De ervas vos mantendes

Que traz o Verão,

E eu das lembranças

Do meu coração.

Gados que pasceis

Com contentamento,

Vosso mantimento

Não no entendereis;

Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração.


Luís Vaz de Camões



A vida é o dia de hoje,

A vida é ai que mal soa,

A vida é sombra que foge,

A vida é nuvem que voa;

A vida é sonho tão leve

Que se desfaz como a neve

E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,

Mais leve que o pensamento,

A vida leva-a o vento,

A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,

A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,

Voa mais leve que a ave:

Nuvem que o vento nos ares,

Onda que o vento nos mares,

Uma após outra lançou,
A vida - pena caída

Da asa da ave ferida

De vale em vale impelida

A vida o vento levou!
João de Deus

domingo, 8 de novembro de 2009

"Eu e os meus irmãos"



As histórias de luta e sobrevivência dos "órfãos de SIDA" em Moçambique.


O HIV/SIDA é dos maiores flagelos das sociedades contemporâneas, atingindo sobretudo países em que a pobreza é avassaladora. O VIH/SIDA e a pobreza extrema são duas realidades que se potenciam.
Moçambique situa-se entre os oito países do mundo com maior taxa de prevalência estimada de VIH em adultos em idade produtiva. A situação do VIH/SIDA na Província de Gaza é cada vez mais dramática, caracterizando-se por um aumento do número de novas infecções à medida que o tempo vai passando. De acordo com os dados da última ronda de Vigilância Epidemiológica de VIH, em 2007, divulgados pelo Ministério da Saúde, o distrito de Bilene/Macia, pertencente a Gaza, passou a ser afectado pela epidemia com a taxa de prevalência de VIH estimada em 27%.
A experiência das COV’s (Crianças Orfãs e Vulneráveis) varia significativamente entre famílias, comunidades e países. As crianças são indirectamente e directamente afectadas por esta doença. Indirectamente, quando as suas comunidades, e os serviços que essas comunidades fornecem, são levados ao limite pelas consequências da epidemia VIH/SIDA. O VIH/SIDA afecta directamente a criança praticamente todos os aspectos do desenvolvimento infantil. As COV’s estão no mais alto risco de perder a sua formação escolar, o acesso à saúde, de viver em casas com menos segurança alimentar (desnutrição), de apresentarem fraco desenvolvimento físico, ansiedade/depressão e maior exposição ao VIH. Além disso a epidemia reforça a marginalização e a destruição, e coloca os encargos da perda, medo e responsabilidades que geralmente são dos adultos sobre as crianças.
Entre estatísticas, debates, uma infinidade de documentos que se encontram em tudo o que é sítio em relação a esta problemática, nada há como conhecer e entrar na realidade dos protagonistas destas histórias, ver a força que têm todos os dias em que se levantam e não sabem se sequer irão comer para repôr todas as energias que serão gastas nesse dia, não sabem o que será a sua vida ou a dos seus filhos, irmãos, mas as forças para sorrir e lutar por cada dia não se esgotam... "nunca tiveram água ou electricidade, rádio ou televisão"... e há quem eleja como falta capital uma bola de futebol, e quando lhes perguntamos o que lhes faz falta, a resposta é "nada, nada. Só... nada, nada, nada... Está tudo bom, sim..." com um sorriso inspirador.

http://crescerdemaosdadas.blogspot.com/






“Condenados a prisão perpétua”

Isabelinha de 3 anos e Lídia de 8, estão institucionalizadas, foram retiradas aos pais por negligência e abandono. A mãe, mulher de 43 anos, teve 8 filhos, todos em instituições alguns já tiveram filhos que seguiram o mesmo destino. Para a Isabelinha e Lídia havia um casal interessado em ficar com as duas meninas, começou a tratar-se da adopção para estas crianças. A mãe insurgiu-se e em tribunal ficou decidido que as mesmas não seriam adoptadas, privilegiou-se os interesses da mãe. Que interesses são estes que se sobrepõem ao bem-estar, ao direito à educação, a um lar, à felicidade dos próprios filhos e os condena a uma prisão perpétua??? As meninas foram condenadas pelo tribunal e pela própria “mãe”!


Quantas crianças vivem em instituições até serem adultas porque os pais não permitem a adopção mas também nada fazem para ter estas crianças junto de si ou pelo menos visitá-las com frequência demonstrando-lhes que de facto as amam? Que pais são estes que não amando não permitem que os filhos sejam amados por quem quer tomar conta deles???


Que leis são as deste país que privilegiam os interesses dos pais biológicos ao invés de respeitarem e salvaguardarem os da criança???


Que fazem os nossos governantes, os nossos políticos, para quem as batalhas verbais na Assembleia são mais importantes, não se dando ao trabalho de propor leis que protejam estes pequeninos seres?


Senhores políticos, ACORDEM, protejam as nossas crianças revejam-nas nos vossos filhos, netos, e zelem pelos seus interesses!

Universalista

sábado, 7 de novembro de 2009

Poemas



"Ego"

Fui sozinho à minha entrevista,
Quem é esse que me segue
na escuridão calada?

Afasto-me para ele passar,
mas não passa.

Seu andar soberbo
levanta poeira,
sua voz forte
duplica a minha palavra.

Senhor,
é o meu pobre eu!
Ele não se importa com nada.
Mas como sinto vergonha
por ter de vir com ele
à tua porta!

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"







A ARTE DE SER FELIZ, Cecília Meireles


Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

L'autunno - Vivaldi



terça-feira, 3 de novembro de 2009

Homenagem a Claude Lévi-Strauss (1908-2009)


Foi um dos grandes intelectuais franceses do século XX e lançou as bases da Antropologia moderna. Foi o primeiro membro centenário da Academia Francesa, para onde entrou em 1973. E foi também um crítico do etnocentrismo e de algum modo um precursor intelectual do movimento ecologista.


Lévi-Strauss criticou o aparecimento de uma corrente de pensamento humanista que secundarizou a natureza, tornando-se assim num precursor do movimento ecologista.


Tímido, melómano, admirador da civilização japonesa, atraído pelo budismo nos últimos anos de vida, Lévi-Strauss recusou comparecer a todas as homenagens que lhe prestaram em Novembro de 2008 por ocasião do seu centenário. Manteve-se céptico até ao fim: "Penso no presente e neste mundo: não é um mundo que ame."Mas deixou herdeiros. Muitos poderão hoje como Dinah Ribard, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris: "Todos os antropólogos franceses são filhos espirituais de Lévi-Strauss."

domingo, 1 de novembro de 2009

"MAR" & Mia Couto


"Viemos da água,somos água, e só seremos terra, pó, quando secarmos. Cabe-nos não nos deixarmos minguar, secar, antes que o fio do tempo nos dite a morte. Compete-nos abrir as comportas da água interior, soltar o sangue, o sonho, libertar o coração: " Milagre é o rio não findar mais. Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida".