sábado, 8 de maio de 2010

"A anémona dos dias" e "Cidade" a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen




A ANÉMONA DOS DIAS
  
Aquele que profanou o mar
E que traiu o arco azul do tempo
Falou da sua vitória
 
Disse que tinha ultrapassado a lei
Falou da sua liberdade
Falou de si próprio como de um Messias
 
Porém eu vi no chão suja e calcada
A transparente anêmona dos dias.


   


CIDADE

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.


 

2 comentários:

  1. Comovente poema e belíssimo blog. Fiquei encantada, pois gosto muito de blogs assim.
    Beijos na alma!

    ResponderEliminar