"Baruch de Espinosa tem 24 anos quando abandona o meio mercantil em que foi criado para dedicar o resto da sua vida à demanda da verdade e à meta de uma vida vivida com verdade. Porquê? No Tratado da Reforma do Entendimento - um tratado curto, inacabado que pode ser lido como um estudo preliminar para a sua Ética - explica essa escolha: a experiência ensinou-lhe que quase tudo na vida é vão e trivial. Inevitavelmente, levanta-se a questão de saber se não existe alguma verdade e duradouro bem ao alcance dos seres humanos, de modo que possam viver vidas boas e verdadeiras. O jovem está completamente ciente de que este género de vida significa um corte radical com uma sociedade em que cada um é guiado pela sede de «riqueza,honrarias e prazer sensual». Todavia, já reparou que esses desejos nunca podem trazer felicidade e paz de espírito para sempre. Mais ainda, teve já a experiência de que mesmo um pensamento focado, a tentativa de entender o que são a verdade e a maneira correcta de viver - ainda que de modo efémero- lhe trazem a calma e a alegria que procura. Esta experiência quase física, tão simples como essencial, fornece a Espinosa duas revelações que determinam o resto da sua vida.
A mente é o maior dom da humanidade. Pensando por si, qualquer pessoa pode familiarizar-se com o que é verdadeira e duradouramente bom e viver em conformidade. A melhor vida é desse modo inteiramente dedicada ao pensamento, ao amor da sabedoria. Numa carta a um amigo, Espinosa confessa: «Que cada um viva de acordo com as suas inclinações pessoais tanto quanto eu posso viver para a verdade». Ao mesmo tempo, compreende que a verdade e a liberdade estão sempre entrelaçadas. Quem não for livre não pode viver com verdade."
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