De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem
Não os meus tristes passos
Mas a realidade
De eu ter passos comigo?
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem
Não os meus tristes passos
Mas a realidade
De eu ter passos comigo?
Esquece o tempo. O tempo não existe.
Acende a chama às límpidas lanternas.
Nossas almas, a ansiar no mundo triste,
são de uma mesma idade: são eternas.
Se no meu rosto lês mortais cansaços,
é natural.A luta foi renhida:
caminhei tantos passos, tantos passos
para que te encontrasse em minha vida...
Não medites o tempo. Se muito antes
de ti cheguei, para a áspera, inclemente
sina de navegar por este mar,
foi para que tivesse olhos orantes,
e me purificasse longamente
na infinita aflição de te esperar...
(Tasso da Silveira)
GOZO OS CAMPOS
Gozo os campos sem reparar para eles.
Perguntas-me por que os gozo.
Porque os gozo, respondo.
Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente
E ter uma noção do seu perfume nas nossas idéias mais apagadas.
Quando reparo, não gozo: vejo.
Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,
Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos
À dureza fresca da terra cheirosa e irregular;
E alguma cousa dos ruídos indistintos das cousas a existir,
E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas órbitas,
E só um resto de vida ouve.
(Alberto Caeiro)
(Alberto Caeiro)
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