quarta-feira, 2 de setembro de 2009

LEON URIS
Em suas 600 páginas, sua obra-prima relata, de forma épica, a história que antecedeu a criação do Estado de Israel, desde o surgimento do sionismo, no final do século XIX, até a independência, em 1948.
Descrevendo os combatentes judeus clandestinos como heróis moralmente superiores, Uris contribuiu para moldar uma imagem positiva do Estado de Israel entre os judeus americanos. Estes passaram a sentir orgulho de ser judeus e de ter uma ligação com a jovem nação.
Nos anos seguintes, Exodus teve mais de cinquenta edições, foi traduzido para 35 idiomas e vendeu mais de dez milhões de cópias. Em 1960, a obra foi transformada em filme pelo director Otto Preminger, com Paul Newman no papel do protagonista, tornando-se um grande sucesso cinematográfico.
Uris vê na criação do Estado de Israel o refúgio final para os judeus que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial e aos horrores do Holocausto. Acredita ser esta a história do maior milagre dos tempos modernos, sem paralelo na história, com o ressurgimento de uma nação após dois mil anos de dispersão, permitindo a volta dos judeus para casa "após séculos de abusos, humilhações, torturas e assassinatos, para criar um oásis no deserto, edificado com seus esforços e seu sangue...".
Dizia também: "Mostrei o outro lado da moeda e escrevi sobre o meu povo que, com nada além de coragem, conseguiu realizar conquistas impossíveis... Exodus é uma obra sobre homens que lutam, que não pedem desculpas pelo fato de ter nascido judeus ou pelo direito de viver com dignidade". Sua obra sobre os imigrantes europeus a caminho da Terra de Israel, com sua luta até o estabelecimento do Estado, inspirou várias gerações de judeus. De acordo com o professor Sandford Pinsker, "a imagem mítica de Israel que ele apresenta continua viva na cabeça de muitos judeus americanos".
Numa entrevista concedida à agência de notícias Associated Press, em 1988, Uris afirmou que Exodus se tornara uma espécie de Bíblia para os dissidentes judeus da ex-União Soviética, onde circulava clandestinamente e era citado como "o livro". Mas há também historiadores críticos, como o israelita Tom Segev, que acreditam que o fato de Uris ter idealizado e transformado o sionismo em um mito acabou distorcendo-o e afastando-o da realidade, causando mais danos do que benefícios.
A publicação de cada livro era precedida por um longo e obsessivo trabalho de pesquisa. Enérgico e destemido, Leon Uris foi um escritor aventureiro, que viajava incansavelmente, às vezes arriscando sua própria vida. Em 1956, por exemplo, foi ao Oriente Médio realizar as pesquisas para escrever Exodus e acabou cobrindo a Crise do Suez, entre Israel e o Egipto, como jornalista e enviado especial.
Uris nasceu em 1924, em Baltimore, Maryland, e cresceu em Norfolk, Virgínia. Sobre si mesmo, dizia: "Costumava me ver como um menino judeu muito triste, isolado em uma cidade do sul, baixinho e asmático... Mas relendo minha correspondência, vejo que, na realidade, eu era muito tenaz. Aproveitava qualquer oportunidade para melhorar de vida e podia ser implacável. Incomodei muita gente durante a minha ascensão".
Seu pai era um modesto imigrante da Rússia czarista, que vivera um ano em Israel antes de ir para os Estados Unidos. O próprio nome Uris seria uma abreviação e americanização do sobrenome Yerushalmi (que quer dizer "de Jerusalém"). Sobre seu pai, costumava dizer: "Era, na verdade, um fracassado que acumulava uma derrota atrás da outra... Posso afirmar sem hesitação que, até onde consigo me lembrar, eu estava determinado a não ser um fracasso".
Uris, que quando garoto era entregador de jornais, nunca foi bom aluno e não conseguiu terminar o liceu. Durante a Segunda Guerra Mundial alistou-se como fuzileiro naval. Posteriormente, começou a enviar artigos para revistas, publicando a sua primeira matéria em 1951. Desde então, não parou mais de escrever.
Seu primeiro romance, uma história sobre fuzileiros navais, é Grito de Batalha, publicado em 1953 e adaptado para o cinema. Dois anos depois foi a vez de The Angry Hill, um livro de espionagem ambientado na Grécia durante a Segunda Guerra Mundial. Exodus foi publicado em 1958 e transformado em filme em 1960.
Em seguida, o autor viajou pela Europa Oriental para entrevistar sobreviventes do Holocausto para seu novo romance Mila 18, sobre o Levante do Gueto de Varsóvia, ocorrido durante a Segunda Guerra. A crítica não deu muita atenção a este romance, embora Uris o considere sua mais ambiciosa e orgulhosa realização, escrita unicamente pelo desejo de contar a história, sem visar o sucesso editorial. Em 1967 veio Topázio, uma história de espionagem envolvendo os serviços secretos da França. Esta obra foi adaptada para o cinema por Alfred Hitchcock.
Na década de 70, Uris alcançou grande fama com Trindade, um romance épico e enciclopédico sobre o conflito e a luta da Irlanda para conquistar a independência. É a saga de três famílias, desde meados do século XIX até o Levante da Páscoa, em 1916. Este livro rendeu-lhe o prémio do Instituto Irlandês John F. Kennedy, em 1976.
Seu livro mais pessoal, quase autobiográfico, O Estreito de Mitla, foi publicado em 1988, e aborda a vida do autor e de sua família. O livro começa em Israel, em 1956, durante a crise do canal de Suez, e é centrado na experiência do personagem Gideon Zadok, um escritor que cobre o conflito como jornalista. O romance recupera a trajectória dos ancestrais de Zadok até 1888, com vários parentes relatando suas histórias. "Buscava um legado afirmava para deixar para meus filhos e netos"."Queria deixar-lhes a história do que aquele velho havia feito e queria que soubessem que ele não era infalível... Todos nós passamos a segunda metade da vida colhendo o que plantamos na primeira.”
O lançamento de seu último trabalho, intitulado O’Hara’s Choice, estava previsto para Outubro de 2003, informou sua ex-mulher, Jill Uris. Mas o estado precário de sua saúde impediu Uris de fazer planos para promover o livro. Sua última obra fala sobre os fuzileiros navais e sua luta para se afirmar após a Guerra Civil. Sua primeira obra, Grito de Batalha, também falava sobre os fuzileiros. Assim, segundo seu primo Hershel Blumberg, "ele sabia que este seria seu último trabalho, portanto, quis concluir por onde havia começado: queria fechar o círculo".
Uris casou-se três vezes e teve cinco filhos. A crítica literária não foi muito indulgente com ele, talvez "pelo excesso de exposições e informações", dizia Pete Hamill, em The New York Times Book Review, mas "nada disso importa se você mergulha na narrativa... Uris certamente é nosso melhor contador de histórias". Independentemente do valor literário de sua obra, Uris foi muito querido por um público fiel de leitores.

1 comentário:

  1. Uma de suas obras,Grito de Batalha, foi meu companheiro de horas em minha infãncia!

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