sábado, 26 de setembro de 2009

Notícias do Brasil...e do mundo!



 
Direito à cidade - 24/08/2009
                                * Padre Alfredo J. Gonçalves, CS

Quem são os habitantes da chamada cracolândia? Pela idade, eles são crianças e adolescentes. Na realidade, porém, passaram da infância à vida adulta de forma abrupta e não raro traumática. Grande parte rompeu com a própria família pelos motivos mais diversos e terminaram definitivamente na rua. Não poucos tem na origem pais migrantes de outros estados do território nacional.

Sós e perdidos, eles foram se juntando, um com o outro, estes com um novo grupo, e assim por diante. Aos poucos, formaram pequenos bandos e ocupando a região central da cidade de São Paulo, nas imediações da antiga rodoviária. Escorraçados de um lado para o outro, aves feridas e errantes, acabaram se ocultando nesses lugares sórdidos e escuros da cidade mais populosa do país.

A rua é selvagem, cruel, tem suas exigências. Requer malabarismos sutis e sutis estratégias de sobrevivência. A comida, a roupa, o cobertor, o lugar para dormir ou para fazer as necessidades básicas. Requer também exercer a mendicância por migalhas de afeto, como um cão ou algum transeunte solitário. Violência e solidariedade se mesclam. Mas a rua requer, ainda, manter vivos sonhos e esperanças, o sentido da própria existência, enfim a vida.

Aí entra o cigarro, o álcool, a droga e principalmente o crack. É dura a luta diária pela droga salvadora. A “muamba” é cara e nesse comércio clandestino dívida é paga com a morte. Por trás disso, há a manipulação de adultos experimentados no mundo do tráfico, há o crime organizado.
Hoje as autoridades pretendem acabar com a cracolândia. A proposta faz parte do processo de revitalização do centro, o que inclui a “limpeza” da área. Os meninos e meninas de rua converteram-se em lixo a ser removido. São obrigados a partir para as ruas adjacentes, de onde são novamente banidos com água, pedras, palavrões, pontapés, etc.A grande metrópole, negando-lhes uma cidadania digna e justa, se tornou refém de suas crianças e adolescentes.

O mesmo se poderia dizer dos imigrantes indocumentados, vindos dos países limítrofes. Em ambos os casos, o poder público pretende apagar o fogo soprando na fumaça. A cracolândia e as oficinas de costura clandestina, por exemplo, fazem parte do efeito, não da causa. Os meninos e meninas abandonados, como também os imigrantes irregulares, são o resultado de uma exclusão sócio-econômica muito mais ampla, profunda e complexa. Enquanto uns são filho de pais e mães igualmente abandonados, outros partiram de sua terras de origem como gente expatriada.

Além de trabalho, saúde, moradia, segurança e transporte para os pais, onde estão as escolas de boa qualidade para os filhos? Onde estão as áreas de lazer para as crianças e adolescentes se encontrarem e exercitarem suas energias e aptidões? Onde está o incentivo ao esporte, à música, à dança, ao balé. Por que a Lei dos Estrangeiros segue tão rígida e excludente? Onde está a famosa acolhida brasileira?

E com mais veemência cabe perguntar pela responsabilidade da família, da escola e das igrejas.Na igreja católica por exemplo, que projetos são desenvolvidos junto a essa população tão carente e vulnerável de São Paulo? Por mais que sejam obras necessárias, não basta a Casa do Migrante, a Pastoral dos Migrantes ou o Orfanato Cristóvão Colombo! Toda a Igreja e toda a Sociedade são responsáveis pelas crianças e pelos estrangeiros.

*Pároco de São Paulo.

Sem comentários:

Enviar um comentário