A ARTE DE VIVER EM PAZ
• Visa sensibilizar e motivar pessoas a construírem seu próprio programa de qualidade de vida, a partir da reflexão sobre suas opiniões, atitudes e comportamentos. Demonstrando a interligação dos processos vitais, possibilita assumir responsabilidade pela manutenção da paz em todos os relacionamentos e restabelecer uma relação harmoniosa e equilibrada consigo, com o outro e com a natureza.
Para muitos de nós, ocidentais, quando pensamos em paz, logo vem a mente imagens de paisagens calmas, contemplativas, entre fofas nuvens brancas, sons de harpa e anjos barrocos voando aqui e ali. Creio que são padrões que estão associados a contribuições do sistema educacional e religioso às crianças da minha geração.
Para os orientais das escolas taoistas e do budismo tibetano o conceito de paz é muito mais abrangente. Para eles paz é o mesmo que movimento, alegria, música, fluidez, espontaneidade, harmonia, iniciativa, encontro...Com a mesma abrangência vêem a guerra como crise, conflito, oportunidade, crescimento... Ou seja saem do dualismo e compreendem as situações com uma visão mais complexa e integral.
Ao ser questionado se há algo que une todos os indivíduos, de todos os povos, de todas culturas e de todas as regiões do mundo o Dalai Lama afirma que sim e aponta o desejo da felicidade como uma causa unificadora de toda a humanidade.
Ora se a felicidade é a busca comum de todos os homens e mulheres do mundo por que ainda seguimos colhendo tanta infelicidade e tristeza?
A UNESCO, órgão das Nações Unidas, que visa promover a paz através da educação, da ciência e da cultura, criada em 1945 no preâmbulo do seu ato constitutivo afirma que: “As guerras nascem na mente dos homens, logo, é na mente dos homens que devem ser erguidos o baluarte da paz”.
Na sua mente, o indivíduo separa-se da natureza e da sociedade. Por causa da separação ele criou fragmentações que Pierre Weil chamou de “fantasia da separabilidade”. Muito tem contribuído para isso a visão mecanicista da ciência relutante em aceitar as revelações da física quântica.
Para sair desta armadilha dualista precisamos ampliar a nossa consciência da realidade que nos cerca buscando uma visão holística e integral. Uma consciência cósmica, isto é, uma visão que leva em consideração tanto o todo como as partes. Trazendo isso para o quotidiano. Aprendendo a pensar globalmente e agir localmente. Buscando num processo de transformação despertar a “A arte de viver em paz” consigo mesmo, com a sociedade e com a natureza.
Nós vivemos actualmente uma crise de fragmentação sem precedentes. A mente do homem dividiu tudo, desde os países até o mundo das ideias. As universidades estão fragmentadas, as religiões estão fragmentadas. Como começa essa fragmentação na mente dos indivíduos?
Se pedirmos para as pessoas apontarem onde está a natureza a maioria delas apontará para as árvores, para as nuvens, para algo exterior. Nós nos comportamos como se a natureza estivesse fora de nós. Estamos realmente fora da natureza? Estamos fora do mundo? Essa dualidade é uma fantasia, a “Fantasia da Separabilidade” que gera reacções. De apego quando desejamos possuir objectos, pessoas ou ideias que nos dão prazer. De rejeição quando rejeitamos objectos, pessoas ou ideias que nos ameaçam e nos causam desprazer, estimulando o medo ou a raiva. De indiferença quando somos indiferentes a objectos, pessoas ou ideias que não nos causam nem prazer, nem desprazer e sem qualquer utilidade.
Se quisermos experenciar em nós mesmos onde fica a paz, em primeiro lugar precisamos encontrar a paz no corpo. O relaxamento diário é um caminho fácil que, em pouco tempo, garante dias mais tranquilos e em paz, se for praticado todos os dias. Alem é claro de uma alimentação saudável, natural, equilibrada e frugal. Da prática de actividades físicas prazerosas como as de Tai-Chi, Hatha-Yoga, Aikido, caminhadas, dança e tantas outras que exijam de nós uma consciência respiratória que é a fonte de todas as energias. O equilíbrio de tempo dedicado ao trabalho e ao lazer bem como aos amigos e familiares também é uma medida para a paz no corpo e no coração.
E por falar no coração - que é o nosso centro das emoções - precisamos entender que as doenças que aparecerem no corpo são desencadeadas por emoções negativas repetitivas provocadas por situações que desencadeiam raiva, ciúme, medo...que precisam ser tratadas seja pela própria pessoa no seu processo de autoconhecimento seja por terapeutas nos casos mais complexos.
Para evitar o acúmulo de emoções negativas precisamos esclarecer as situações que enfrentamos usualmente baseados na nossa sempre fértil imaginação. É sair do PISAR e ir para o PESAR. Esclarecendo os acrósticos: P = percebo, I = imagino, S = sinto, A = ajo e R = reajo quanto ao PESAR o E significa esclarecer que é onde reside o salto, a mudança de qualidade nas relações. Para exemplificar: cruzo com um amigo e ele não me cumprimenta. Ao invés de ficar imaginando mil e uma possibilidades (em geral negativas) vou esclarecer com ele o ocorrido o que lhe permitirá dar as razões e com isso solidificar ainda mais a amizade. Isso adotado como prática desonera nosso acervo de situações mal resolvidas trazendo paz para as nossas emoções. Segundo Pierre Weil, para seu próprio bem, não passe mais de 24 horas com um ressentimento.
No nível mental as várias práticas de meditação são indicadas para o equilíbrio da nossa mente tão ativa e descontrolada. Gosto de imaginar os pensamentos indesejáveis como as nuvens do céu que assim como surgem vão embora suavemente, sem esforço. Assim entre as muitas “nuvens” aparecesse o “sol radiante”, nossas melhores intuições. No início estes momentos são rápidos e raros mas com a disciplina e a prática vão nos visitando com mais freqüência. São nestes momentos de iluminação que sentimos a nossa união profunda com o todo. Somos uno no todo.
Nós vimos como acontece a destruição da ecologia pessoal, dentro de nós mesmos. A mente fragmentada favorece emoções destrutivas que, por sua vez, destroem o equilíbrio do corpo. Assim é que perdemos a paz interior. O indivíduo por sua vez cria uma sociedade doente, uma cultura fragmentada, uma sociedade violenta, condições econômicas de exploração do indivíduo pelo indivíduo. Podemos também afirmar que essa sociedade doente reforça e cria indivíduos doentes e desequilibrados. A situação é parecida com problema do ovo e da galinha. Não sabemos onde começou o desequilíbrio, se na sociedade, se no indivíduo. No entanto fica bem claro que é indispensável começar a trabalhar a paz no indivíduo. Paralelamente também se deve fazê-lo no plano social através de ações de entidades governamentais ou não.
Para facilitar a paz na sociedade é preciso um sistema econômico que proporcione, a cada indivíduo, condições para manter o conforto essencial, a começar pela alimentação, vestuário e moradia. Uma volta de todos os cidadãos do planeta à simplicidade voluntária, diminuindo assim o super consumo que gera a destruição da natureza. Tendo o trabalho como fonte de alegria de viver através do desenvolvimento de uma nova motivação profissional, fundamentada na consciência da utilidade do serviço (viço do ser) prestado aos outros e na alegria que isso proporciona, tanto quanto nos benefícios pessoais recebidos. Uma educação para crianças, adolescentes, jovens e adultos que vise, antes de tudo, ao despertar da consciência e do espírito de cooperação, que abranja as consciências pessoais, sociais e ambientais. Uma cultura de paz que incentive o despertar em cada um da beleza, da verdade, do amor, da justiça, ou seja, de todos os valores universais, para substituir a violência e a destruição pela cooperação, a sinergia e o respeito à vida e à natureza.
(*)Seminário de autoria do reitor da Unipaz, Dr. Pierre Weil, é uma contribuição da Unipaz para o programa da ONU (Nosso futuro comum) e da UNESCO (A paz no espírito dos homens), tendo sido aprovado em sua 26ª Assembléia Geral como um método educacional para a paz.
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